quinta-feira, 1 de março de 2012

Teles pressionam pela criação da “taxa Google”

Luís Osvaldo Grossmann*
Convergência Digital

“Pessoas do mesmo ofício raramente se encontram, mesmo que em alegria ou diversão, mas se tiver lugar, a conversa acaba em conspiração contra o público, ou em qualquer artifício para fazer subir os preços”, afirmava Adam Smith.


E no setor de Telecom isso não seria diferente. Reunidos em Barcelona para mais uma edição do Mobile World Congress, a principal reunião das operadoras de telecomunicações, os executivos da área voltaram a defender que os grandes provedores de conteúdo na Internet participem do financiamento das redes. 

É a abertura da temporada anual pela criação do que poderia ser chamado de “taxa Google”.

“Quando alguém assiste YouTube em um celular e termina com uma conta enorme, ele xinga as operadoras de telecom. Mas o YouTube consome uma grande quantidade dos recursos de nossas redes. Alguém tem que pagar por isso”, resumiu o presidente da Airtel, da Índia, Sunil Bharti Mittal.

Quem pagaria? Para Mittal, um recurso seria o pagamento de uma espécie de tarifa de interconexão, semelhante ao que existe nas chamdas entre clientes de diferentes operadoras. “Se vamos construir as rodovias, deve existir uma taxa pelo uso delas”, completou o executivo.

O tema é recorrente por conta da sempre crescente demanda dos consumidores por maiores volumes de dados e velocidades nas conexões. O objetivo assumido é garantir “uma fatia maior daquilo que agora vai para companhias como Apple e Google”.

A premissa é discutível – não seria o uso dos serviços dessas empresas o que levaria consumidores a pagarem por uma assinatura de conexão? – e a conta final deve mesmo sobrar para os clientes. Tanto que outra linha defendida é a cobrança proporcional ao uso das redes.

“Nós mimamos os clientes. Damos as coisas muito facilmente”, disse o presidente da operadora russa VimpelCom, Jo Lunder, ao defender que os usuários de equipamentos móveis paguem mais. O presidente da Telefónica, Santiago Fernandez Valbuena, fez coro ao sustentar que as empresas são muito generosas.

“O desafio é fazer os consumidores entenderem que se querem alta qualidade, altas velocidades, devem pagar mais. Temos que focar em quanto volume está sendo usado, educar [os clientes] para que eles não usem demais. Veremos planos de tarifas relacionados a velocidades e volumes”, afirmou Lunder.

E se o Google é o grande alvo, Eric Schmidt, presidente da empresa, também foi um astro no palco do Mobile World Congress. Na sua apresentação - como keynote - o executivo garantiu que todas as tentativas para controlar a rede com regulações, em alusão aos textos como a lei SOPA, "vão fracassar" porque "a internet e a tecnologia vão encontrar seus caminhos".

Sobre a explosão de dados, Schmidt também foi taxativo. "Se hoje já há um grande consumo, imagina quando os 5 bilhões de pessoas que estão fora da rede entrarem". E numa estocada nas teles, o presidente do Google, apesar de prometer smartphones com custo abaixo de US$ 100, ressaltou que "os celulares inteligentes são parte da solução, mas não resolvem todo problema. 

Ainda faltam infraestruturas para tornar a conexão mais viável", referindo-se claramente aos chamados países emergentes, entre eles, o Brasil.

*Com informações da Cnet