sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os blogs vieram para iluminar a sombra

O valor de um blog está em sua autenticidade, exclusividade e regularidade. O segredo está em disseminar conhecimento onde a mídia oficial não chega ou não consegue chegar.

Por Carlos Nepomuceno

Um blog off-mídia não sobrevive sem o mínimo de autenticidade.

Nepô, da safra 2011.

Quanto mais somos no planeta, mais necessidades temos: comer, vestir, morar, consumir. E para preencher esses desejos que o viver provoca, precisamos cada vez mais de informações e comunicação diversificadas.

Mais fatos são colocados na roda do mundo e mais versões sobre eles ocorrem. Fatos e versões se multiplicam.

Os meios de comunicação e de informação tradicional, com seus poderosos filtros, tentam/tentaram, ao longo dos últimos séculos, dar conta desse grande universo demandante. Fizeram sua parte na maratona, mas estão cansados.

A mídia tradicional – rádio, TV, jornais – cumpriu um papel relevante, mas com o crescimento da população e da complexidade do planeta, tornou-se bastante ineficaz para cobrir tudo o que acontece nos quatro cantos da terra.

A maneira de olhar o mundo era e ainda é fortemente filtrada por um conjunto de pessoas e isso cria um verdadeiro impasse da civilização, pois temos poucas visões sobre as coisas. Os mesmos colunistas sempre se repetem, repetem, repetem…

Os fatos e a versões das mídias tradicionais não são mais compatíveis com o mundo dinâmico do novo século. No meio dessa nova ordem ainda caótica, surge o fenômeno dos blogs, dentro do universo maior das redes sociais.

Os blogs – como as redes sociais que os sucederam – vieram trazer luz à sombra, não só em termos dos acontecimentos, mas das versões sobre esses. Essas ferramentas vieram complementar os fatos e as opiniões do mundo e, quando assim o fazem, geram valor para a sociedade.

Quando as pessoas encontram os blogs de humor, de consumo, de opinião, técnicos, elas estão em um estágio “A” e depois deles, passam para um estágio “B” em termos de informação e conhecimento.

Os blogs complementam e em alguns momentos suprem a informação necessária para muita gente.

Assim, a mídia faz uma espécie de feijão com arroz, do qual já estamos acostumados e os blogs vêm adicionar muito tempero. Em muitos casos se tornam tão importantes que são assumidos pela mídia tradicional, ou passam a exercer influência sobre ela.

A criatura passa a mandar no criador.

Os fatos, os detalhes, os nichos, os pontos de vistas são diversos e muito mais amplos do que o volume de microfones, câmeras, bloquinhos dos jornalistas. Por isso, há uma nova demanda!

Uns novos espaços, uma nova off-mídia em intrincada disputa com a mídia oficial. A rede veio cumprir esse novo papel:

Iluminar as sombras deixadas pela mídia tradicional, permitir que novas idéias entrem “na roda” e gerem debates entre pessoas, compatibilizando o volume de cabeças pensantes com o ambiente de conhecimento disponível.

Como mostra a figura abaixo, na qual a off-mídia (produção independente de usuários ou grupos de usuários), agrega relevância ao planeta:



O principal erro dos blogueiros, entretanto, é querer ser a mídia e não a off-mídia. Querer ser a luz na luz e não a luz sobre a sombra.

A mídia em seu foco é competente, ou se não é, tem força para correr atrás, há dinheiro, capacidade, influência, etc. Um blog precisa gerar valor naquilo em que a mídia não consegue!

O blog veio para dar um contra-ponto na mídia tradicional e não acabar com ela – porém, obriga-a a se repensar, com certeza.

Os leitores vão aderir e ir para um lugar – digamos mais alternativo – a procura disso: diferença, tesouros, esconderijos, reserva, mistério, segredos, informação privilegiada, autenticidade, curiosidade, tudo que estão sedentos em ter e não há por aí. Caso não tenham isso nos blogs, preferem o tradicional.

É bom observar: o leitor de um blog deve romper com um hábito, ir atrás de algo novo, fora dos seus costumes.

Este esforço precisa ser compensador, senão o blog tende a ficar ilhado, perdido e acaba sumindo por falta de náufragos a visitá-lo. São raros os blogueiros que não querem público!

(Evito de falar a palavra sucesso, pois um blog pode exercer uma grande influência e não ser rentável, mas atingir os objetivos do criador / criadores).

Assim, um blog eficiente não é aquele que tenta ser um espaço a mais, onde a mídia oficial coloca luz, mas deve procurar trabalhar nas sombras, nas brechas. A off-mídia veio complementar o que a mídia oficial não o faz!

Aí temos vários caminhos. O primeiro definido na tese de mestrado do Moreno:

Blogs do eu vi – eu repasso informações exclusivas que eu vejo de um lugar privilegiado, no qual outros não podem entrar ou ver, ouvir, ser, pertencer. Complemento o conteúdo da mídia oficial. Um bom exemplo é o blog Fim de Jogo, que oferece notícias sobre a vida em torno dos estádios. Complementa algo ao qual a mídia tradicional “não está lá para ver”. São blogs informativos e trazem informação “fresca”.

Blogs do eu acho – são blogs opinativos, com versões sobre temas de especialistas com uma visão distinta do que acontece. Busca uma visão diferenciada sobre os fenômenos os quais a mídia não cobre muito bem. O meu blog (nepo.com.br) é um exemplo deste modelo, como é o da Raquel Recuero ou do Silvio Meira e tantos outros.

Obviamente, há um misto entre os dois, mas os blogs com maior audiência oferecem diversidade em relação à mídia oficial e geram valor ao seu público-alvo.

Ponto!

Podemos ainda caracterizar um blog:

O blog de nicho – a maior parte dos blogs pertence a um dado nicho, a uma especialização, sendo o blogueiro um especialista na opinião ou no conhecimento, bem informado sobre determinado assunto. É preciso perceber que uma audiência de blog de nicho não pode ser avaliada apenas por quantidade, mas pela qualidade dos visitantes dentro do nicho escolhido.

O blog geral – são raros os blogs com abordagem sobre temas gerais que fazem sucesso, pois eles competem com a mídia de forma direta. Geralmente, são blogs coletivos ou de redes sociais organizados para dar uma visão distinta.

Além disso, podemos ainda definir alguns atributos fundamentais para quem vai jogar luz na sombra:

Autenticidade. Coerência entre o produto e o perfil do blogueiro. As pessoas estão cansadas de uma mídia “comprada” por comerciais, pouco ou nada sincera. É um diferencial não ter censura, ou seja, dar opiniões sem interesses de marketing direto e quanto mais isso for preservado, mais o blog ganha em credibilidade. Os famosos “vendidos”, se descobertos, tendem ao declínio.

Sentido de valor para quem o acompanha. O seguidor deve sentir que está valendo a pena acompanhar o blogueiro, que há novidade, não mesmice ou perda de tempo. Deve ficar claro: a missão está sendo bem cumprida e o conteúdo é relevante. É uma relação de sinergia.

Novidades exclusivas/originalidade. O blogueiro precisa possuir qualidades e esses talentos o levarão a se destacar: um faro e farol, uma opinião distinta, clareza, feeling incomum, informações exclusivas. Quanto mais isso for explícito e agregar valor para o visitante, mais audiência terá no nicho escolhido.

Sensação de pertencimento/diálogo. O blogueiro precisa quebrar a mídia vertical, deve conversar com seus leitores, deixá-los se expressar livremente e ponderar as opiniões. E mudar os pontos de vista ao conhecer idéias melhores! Saber ler as preferências dos leitores e, quando achar interessante, segui-los, ir com eles para o lugar, cumprir a sua missão.

Regularidade. Um blog que não está vivo é um blog morto, simples assim.

Diante disso, repito:

Se o blog apenas repete a mídia geralmente não vinga, a não ser que seja composto de pessoas da própria mídia, mas neste caso, não considero um projeto off-mídia.

É barulho, ruído, sem valor e tende a ser ignorado pelo público, pois esse vai procurar a luz que o off-mídia coloca na sombra.

Há em cada leitor a procura de um balanço e uma necessidade de preencher as suas necessidades de informação, com relevância para assim tomar as decisões e seguir adiante. Um site off-mídia deve ser este algo a mais.



Quando uma off-mídia não vem para agregar luz à sombra, tende a ser ignorada, pois entra no rol dos ruídos.

Há uma sabedoria e um equilíbrio entre todas as novas e velhas mídias. E o profissional – ou mesmo amador – do off-mídia precisa seguir esse perfil!

Podemos ter três categorias: Mídia, off-mídia e não-mídia. Este último é um blog sem visita, então, acaba não sendo mídia, pois a mídia exige troca de informações.

(Não sou contra blogs sem nenhum tipo de público, porque esses podem ganhar depois, mas para ser mídia deve haver leitor, senão é apenas um caderno de anotação que, por acaso, está na rede.)

Se você observar os blogs com trânsito, geradores de “calor” e movimento verá: esses atuam muito bem em algum tipo de sombra, cumprem um papel de pequena lanterna e dão luz ao todo, seja para informar na escuridão ou para juntar diversas partes que, mesmo na luz, não faziam sentido.

Penetram em uma brecha onde a mídia não pode ir ou ainda não foi. O objetivo de agregar informação ao mundo é sempre de levar relevância, o resto é entropia (caos, barulho) com tendência a ser rejeitada.

Essa é a nova dialética: mais vale o silêncio à abobrinha. E quando vem a abobrinha, que seja de uma forma a colaborar na salada.

Que dizes?

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno (carlos@nepo.com.br) é professor, pesquisador e co-autor do livro Conhecimento em Rede (Editora Campus), editor do blog Nepo.com.br e mantém o Twitter cnepomuceno.
 
Fonte: [Webinsider]