quinta-feira, 14 de abril de 2011

Google dá mais passo para uma busca contextual

A melhor maneira (e politicamente correta) de avançar no caminho da personalização dos resultados de busca é utilizar de um filtro social - os "amigos" do solicitante. 


Mais uma empreitada da empresa de Mountain View começa a gerar repercussão na web. Ironicamente chamado do “botão curtir do Google”, a funcionalidade +1 promete trazer elementos sociais para os resultados de busca. Veículos de mídia especializados estão anunciando o +1 como uma ação do Google para entrar nas mídias sociais. Vejo isso como um ledo engano.

Ao invés de pensarmos em “redes sociais” ou em “mídias sociais”, sugiro considerarmos uma “socialização” de ações, ou melhor, adicionar como variável na determinação da relevância de qualquer elemento (objeto, site, musica, vídeo, texto, etc) um ranking gerado por sua rede de confiança (ou “amigos”).

Um buscador nada mais é do que um indexador que, por natureza, trabalha numa simples relação input-output. No meio deste fluxo está seu poder de classificação e ordenação para que o output seja o mais adequado possível para aquele que deseja ter acesso a um determinado elemento (ou determinada resposta para uma solicitação).

Bem, o input está na capacidade e “inteligência” do sistema em encontrar os dados e o output em interpretar a solicitação do usuário, elencar a hierarquia dos dados que dispõe e então transformá-los em informações relevantes para este usuário (ordenando-as segundo esta relevância).
O que o +1 tem a ver com tudo isso? Tudo. Até hoje o sistema de busca do Google baseia suas ordenações, ou seja, relevância, em fatores externos ao usuário, porém ainda assim ligados à folksonomia.

Não me atrevo desvendar a lógica por trás de seu algoritmo, mas, fazendo breve uma longa história, componentes técnicos que facilitam a vida do spider indexador, elementos editoriais do website e, principalmente, o link building entre os bilhões de destinos são os três grupos que influenciam na proximidade entre significante e significado, ou melhor, entre tag de busca e lista de resultados.

Nenhum destes fatores, contudo, realiza uma real interpretação do contexto por trás de uma solicitação de busca ou de sua semântica.

Gosto de usar o seguinte exemplo: um cidadão vai até um buscador e digita “São Paulo”. Que tipo de resposta ele espera encontrar? Poderia ele ser um católico praticamente, devoto do santo Paulo de Tarso? Ou um viajante em busca de mais informações sobre a capital paulista? Ou ainda um amante do futebol querendo saber as novidades sobre seu time de futebol preferido?

Sem elementos que permitam eliminar a similaridade entre o termo usado no input, seria impossível determinar qual hierarquia de resultados melhor entrega a resposta desejada.

O contexto pode ser determinado por diversos fatores: geografia, momento, repertório, experiências passadas, situação, entre outros. O contexto fornece o correto entendimento da mensagem, extrapolando-se a palavra escrita ou falada, e permitindo então uma melhor compreensão do interlocutor e consequente resposta àquele estímulo. Este interlocutor, no caso, nada mais é do que um www.google.com.

Dentro de sua versão mobile, o buscador já utiliza a localização do usuário como um dos fatores de ordenação de resultados: ao se buscar por uma rede de fast food, por exemplo, é apresentado ao usuário dados de contato da unidade mais próxima.

Outra funcionalidade, disponível na versão estadunidense do site, permitia aos usuários “subir” e “descer” resultados conforme julgavam mais ou menos relevantes em função de sua busca. Este último ajudava o buscador na questão da hierarquia de relevância, mas ainda não permitia antecipar o comportamento sobre termos nunca buscados pelo usuário. E, na verdade, isto é muito pouco perto do que pode ser feito.

Se formos analisar todos os pontos de contato possíveis com o Google, seria possível sim tomar elementos comportamentais de um determinado usuário para minimizar os riscos de uma interpretação errônea de um contexto. Estando logado com seu usuário, é possível saber:

-quais são seus gostos, seus amigos e alguns dados pessoais: Orkut
-para onde você foi ou por onde passou: Google Maps
-o que você fez/faz a cada dia: Google Calendar
-quais assuntos mais lhe interessam: Google Reader, Google Chrome
-que assuntos você conversa com seus amigos: Gmail


De posse de todo este contexto, fica mais fácil arriscar se o usuário é um católico devoto ou um amante do futebol.

Mas o Google pode fazer isso? Tecnicamente sim, na prática porém isto pode trazer à tona uma ferrenha discussão sobre privacidade um tanto quanto arriscada para uma empresa que vale cerca de US$ 200 bilhões.

A melhor maneira (e politicamente correta) de avançar no caminho da personalização dos resultados de busca é se utilizar de um filtro social, utilizar os “amigos” do solicitante (portanto, parte de sua rede de confiança e, provavelmente, pessoas que compartilham alguns interesses similares).

Esta cajadada do Google na verdade pode acertar dois coelhos bastante interessantes: ao mesmo tempo em que incorpora elementos sociais aos seus resultados de busca visando aumentar a efetividade das respostas apresentadas ao contextualizar a tag de busca em função de recomendações, a empresa também busca fortalecer sua própria indexação de um determinado tipo de objeto: as pessoas, o que permitirá, num futuro próximo, apresentar conteúdos (onde se incluem ofertas) de maneira customizada não somente em função de uma palavra inserida em um campo de busca, mas também daquele que a inseriu.

Tudo isto usando a permissividade existente dentro das relações existentes entre as pessoas e seus “amigos”.

Fonte: [Webinsider]