quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Haiti: «Redes sociais são tão cruciais como água e electricidade»

«Twitto porque é a única maneira que tenho de ajudar», conta ao tvi24.pt Yael Talleyrand, uma jovem de 16 anos, que vive em Jacmel, na costa sudeste do Haiti. «É a forma que tenho de difundir o máximo de informação que me chega, de tentar que a ajuda necessária chegue a Jacmel e de dar notícias a quem tem família ou casas na cidade».


A jovem explica que «o Twitter permitiu a muitas pessoas comunicarem quando os telefones não funcionavam e mesmo quando a internet estava com algumas limitações».
«Passo o dia tentando ajudar»
Questionada sobre o que a faz passar horas por dia online a transmitir informações, Yael Talleyrand explica: «Eu estou viva, tenho comida, consigo dormir, a minha casa está. De que preciso mais? Claro que perdi pessoas próximas. Todos perdemos. Mas esta não é altura para estar triste, é altura de reagir
começar a reconstruir, fazer alguma coisa», adianta.
«Mesmo que pudesse ficar em casa e estudar, era inútil. Passo o dia a twittar, a visitar locais para ver os estragos com o meu pai e a tentar arranjar ajuda através da República Dominicana», explica.
A jovem conta que «no centro da cidade as pessoas dormem na rua. Agora chegaram as primeiras equipas de socorro e estão a escavar nos escombros, mas parece a cidade dos mortos». «Água e gasolina são um problema generalizado na localidade. Ninguém está a conseguir arranjar água. Fazemos o que podemos, mas a situação está a ficar muito difícil. O dinheiro também é uma grande dificuldade porque os bancos não funcionam», conta.
«Mas o grande problema vai ser a violência. A violência resulta do medo, da fome, da tristeza, da confusão... contaram-me que algures na estrada entre Jacmel e Port au Prince há dois rapazes com catanas. É preciso dizer mais?»
«O Haiti tornou-se uma zona de guerra. Demorou 200 anos a chegar onde estávamos, não vou ser optimista e dizer que daqui a um ano estará tudo resolvido», lamenta.
Yael Talleyrand conta que o pai «parece demasiado ocupado para falar em sair do país», mas a adolescente não vê «futuro no Haiti» para alguém da sua idade. «A minha escola está completamente destruída», explica. «Queria ir para Montreal, tenho família lá, mas como não sou canadiana, não sei como poderei ir», conta.
«Redes sociais são tão cruciais como água e electricidade»
Também a twittar desde os primeiros momentos esteve a Multilink Haiti, uma empresa de internet que tem estado a difundir informações, fotos e vídeos da situação no país. Stéphane D Amours, responsável de marketing e comunicação da empresa explicou ao tvi24.pt que a empresa foi a primeira «a conseguir enviar vídeos em directo através do Skype desde do Haiti após o sismo».
«Os nossos serviços de internet estiveram sempre a funcionar e por isso a nossa missão era continuar a assegurar a internet e enviar para o Twitter, Facebook e Skype o máximo de informação que podíamos», conta. «Estávamos a funcionar como um dos antigos rádios amadores que transmitiam informação crucial tal como o que fazer em caso de sismo, a quem pedir ajuda, recursos disponíveis, ajudar os milhões de pessoas que destroçados procuravam família e amigos e mesmo indicar onde havia sobreviventes».
«As redes sociais neste caso são tão cruciais como água e electricidade», defende.
Mesmo estando no Canadá, a vida de Stéphane D Amours mudou com o sismo. «Estou a dormir 4 horas por dia para assegurar a informação. Não tenho vida normal», conta.